RESENHA: SE EU FOSSE A MINHA MÃE
- joimartinsrocha
- 31 de mai. de 2021
- 4 min de leitura
Se eu fosse a minha mãe, a versão original do filme Sexta-Feira Muito Louca

Por Joice Martins
Se você assistia à Disney Channel na primeira ou no começo da segunda década de 2000, provavelmente você já assistiu ao filme Sexta-Feira Muito Louca, que passava frequentemente no canal. O que pouca gente sabe é que o longa protagonizado por Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis é uma refilmagem de um clássico também produzido pela Disney na década de 1970, chamado no Brasil de Se eu Fosse a Minha Mãe.
Ambos os filmes são inspirados em um livro da autora estadunidense Mary Rodgers lançado em 1972. A história trata da difícil relação entre mãe e filha e o que poderia acontecer se ambas trocassem de corpo por um dia. As duas versões cinematográficas do romance giram em torno dessa temática, porém desenvolvem-na de maneiras bem distintas.
O filme original é do ano de 1976 e foi dirigido pelo estadunidense Gary Nelson. Ele é mais conhecido pelo seu trabalho na direção de séries, tais como Agente 86 e Edição de Amanhã. Se eu fosse a minha mãe foi um dos seus primeiros trabalhos a serem exibidos na tela grande, portanto, o diretor traz muitos elementos usados por ele na televisão para o filme, fazendo com que o filme lembre um sitcom dos anos 1960/70.
Os moldes da típica família americana estão fortemente presentes através da mãe dona de casa, do pai que trabalha fora, do filho criança e da filha pré-adolescente. O personagem da mãe e esposa devota que faz tudo pelo marido (Ellen Andrews ou Sra. Andrews) é interpretado dignamente pela atriz americana Barbara Harris, a qual morreu esse ano e infelizmente é pouco conhecida pelo seu trabalho no cinema, tendo tido mais sucesso na Broadway. A estrela Jodie Foster interpreta Annabel Andrews, a adolescente de 13 anos, popular na escola, com vários amigos e boa nos esportes. Um ponto curioso é o ar masculinizado que a personagem possui, e que pode ter sido proposital ou não já que atriz é hoje assumidamente lésbica e por anos escondeu sua orientação sexual em Hollywood.
Um fato curioso é que ambas as atrizes que interpretaram a filha, Lohan e Foster, foram estrelas adolescentes, mas apenas Jodie conseguiu manter o sucesso e se estabelecer na carreira ganhando posteriormente dois prêmios Oscar. Ao contrário de Lindsay que afundou sua carreira com escândalos e envolvimento com drogas.
O elenco de apoio do filme funciona muito bem, com destaques para o papel do pai e esposo (Bill Andrews ou Sr. Andrews), o qual é realizado pelo ator John Astin conhecido por interpretar Gomez Addams na série A Família Addams. E do irmão (Ben Andrews), o qual é interpretado por Sparky Marcus, hoje desconhecido, mas que fez uma quantidade considerável de filmes como ator mirim.
Um ponto importante na história (e na vida de toda adolescente) é o crush que Annabel tem no vizinho, Boris Harris, interpretado por Marc McClure. A sua paixão é ironizada logo no começo do filme pelo diretor, quando ela diz que ele é lindo e possui algo especial a câmera corta para ele colocando descongestionante nasal, um momento nada atraente para a maioria das pessoas. Aliás, uma curiosidade é que McClure faz uma participação especial na refilmagem de 2003, interpretando um entregador chamado Boris.
O principal acontecimento do filme, a troca de corpos, ocorre sem mais nem menos, sem nenhuma explicação plausível. As personagens precisam apenas dizer ao mesmo tempo “adoraria mudar de lugar com ela, por apenas um dia”, que a troca ocorre seguida de efeitos em um tom psicodélico e datado com a imagem congelada das duas passando de um lado para o outro. As atrizes não estão perfeitas interpretando a outra personagem, mas conseguem convencer. Harris interpreta uma Annabel muito louca e Foster por vezes não consegue trazer a feminilidade e delicadeza da Sra. Andrews.
A produção sofre algumas dificuldades para executar essa troca e fortalecer a interpretação das atrizes. Faltam alguns elementos de figurino e os inúmeros pensamentos das personagens quando estão no outro corpo tornam-se por vezes confusos e maçantes.
Cada versão representa a adolescência e sociedade de sua época. A primeira aos olhos atuais pode parecer machista, quando, por exemplo, a Sra. Andrews dá uma sugestão para o marido sobre o nome da pousada que ele está abrindo e ele descarta dizendo: “Ellen, por favor. Não quero ajuda! Vá a festa bem bonita, como sempre. Eu cuido do resto“. Ela em seguida acende um cigarro para aliviar a frustração. Algo que parece ser um hábito que a personagem repete sempre que é colocada em situações de estresse.
Já o segundo filme foi dirigido por Mark Waters (Meninas Malvadas) e apresenta uma família contemporânea aos novos tempos dos anos 2000: uma mãe viúva, a qual cria os filhos sozinha, sustentando a casa. A filha aqui é roqueira. Aliás, a música é um elemento forte na segunda versão e também está presente na primeira através da abertura em desenho animado no começo do filme. As protagonistas cantam “I’d like to be you for a day”, uma música fofinha e divertida com um ar bem infantil.
Apesar dos problemas listados acima, o filme pode ser interessante para quem viu a refilmagem e gostaria de explorar um pouco mais esse universo, já que esse filme é mais parecido com a história do livro e foi roteirizado pela própria escritora, Mary Rodgers. A produção é por vezes datada, mas possui o seu encanto. Toda a magia da década de 1970 está ali através das músicas, figurino e cenário. Mas também está presente o comportamento da sociedade que era bem diferente e pode estranhar um espectador do século XXI. É um longa bem mais infantil e com um humor pastelão. Mas vale conferir principalmente pelo insano arco final, que é o momento mais movimentado do filme, o qual é bem mais lento considerando os filmes atuais.
Você pode conferir esse clássico estadunidense em um dia de ociosidade na Netflix. Pode ainda aproveitar para assistir Sexta-Feira Muito Louca que também está disponível e comparar ambas as versões dessa história que segue conquistando gerações.
Confira a matéria original em:
Comments