RESENHA: UMA NOITE DE 12 ANOS
- joimartinsrocha
- 31 de mai. de 2021
- 3 min de leitura

Por Joice Martins
Uma Noite de 12 anos é o mais novo filme do premiado diretor uruguaio Álvaro Brechner, conhecido pelas obras Mal dia Para Pescar (2014) e Mr. Kaplan (2014). O filme destacou-se em festivais internacionais como o de Berlim, San Sebástian e Veneza. Tendo sido, inclusive, escolhido para representar o Uruguai na disputa pelo Oscar de 2019. O diretor uruguaio é um dos principais realizadores do país atualmente, sendo quase uma tradição ser escolhido para representar a sua pátria no principal prêmio estadunidense a cada vez que lança um novo filme. Entretanto, o diretor ainda não conseguiu ficar entre os cinco indicados a categoria de Melhor Filme Estrangeiro, mas tem boas chances de conseguir pela primeira vez com Uma Noite de 12 Anos.
A produção vem sendo amplamente divulgada como o filme que retrata a prisão do famoso ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, durante a ditadura militar. Porém, quem for assistir ao longa pensando que ele foca muito nesse ponto e que irá ver a história do querido ex-presidente em destaque, pode ficar um pouco decepcionado. O filme divide o seu foco entre Pepe Mujica (Antonio de la Torre), Mauricio Rosencof (Chino Darín) e Eleuterio Fernández Huidobro (Alfonso Tort), membros do grupo de guerrilheiros Tupamaros, que ficaram presos durante os doze anos do regime no país.
Além da prisão, os três protagonistas tiveram que enfrentar torturas e um tratamento desumano, isolados cada um em uma cela, com pouquíssima comida, água e nenhuma luz do Sol, sem praticamente nenhum contato com o mundo exterior. O objetivo? Levá-los à loucura. O filme vai mostrando, então, toda a luta dos três guerrilheiros para manter a sanidade e não perder as esperanças. Obviamente, eles vão se deteriorando fisicamente por conta do tratamento que lhes é dado e isso é mostrado competentemente pela equipe de maquiagem, a qual consegue deixá-los em situações deploráveis.
Esses momentos de tensão são equilibrados pelo roteiro – também de autoria de Brechner – por momentos de alívio cômico, que criticam as incoerências dos regimes ditatoriais. Esses momentos são vividos principalmente pelos personagens de Chino Darín – filho do astro do cinema argentino Ricardo Darín- e Alfonso Tort, os quais estão muito confortáveis em suas interpretações. Porém, o destaque vai para Antonio de la Torre que consegue transmitir toda a áurea do seu icônico personagem. As suas cenas são as mais angustiantes, pois o personagem parece o mais próximo de sucumbir à loucura. A sua relação com a mãe é de longe a mais emocionante de todo o filme.
O filme não se prende em dar explicações detalhadas sobre o contexto histórico ou os antecedentes que geraram aqueles doze anos de confinamento. As poucas informações do passado dos personagens são mostradas belamente pela montagem através de flashbacks colocados no decorrer do filme. Portanto, quem não tiver conhecimento sobre a história uruguaia poderá ficar um pouco perdido e terá que dar uma pesquisada depois da sessão.
Um maravilhoso destaque vai para a versão da cantora espanhola Silvia Pérez Cruz da música de Simon & Garfunkel “The Sound of Silence”, a qual intensifica ainda mais os momentos de grande teor emocional do filme e nos toca no fundo do coração.
Apesar da história se passar no Uruguai e há mais de 30 anos, ela serve de grande alerta para a população brasileira, a qual também passou por um período ditatorial, mas que ao contrário do seu país vizinho não reconhece os erros do passado. O povo uruguaio enxerga os presos e torturados políticos da época como heróis, reconhecendo toda a resistência e luta pela democracia. Pepe Mujica foi eleito presidente da República em 2009. Mauricio Rosencof é hoje diretor de cultura de Montevidéu e Eleuterio Fernández Huidobro, hoje falecido, foi ministro da Defesa. O filme estreou dia 27 de setembro no Brasil e é distribuído pela Vitrine Filmes com classificação indicativa de 14 anos.
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