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África registra baixos índices da Covid-19

  • joimartinsrocha
  • 31 de mai. de 2021
  • 5 min de leitura

Pesquisadores tentam descobrir o enigma que cerca os baixos números de casos no continente mais pobre do mundo


Por Bruno Andrade, Joice Martins, Julia Tamelini e Thais Oliveira

África, porção da Ásia e Oceania registram poucos casos de Covid-19 (Fonte: World Health Organization)


Imagine um país que ao longo de toda a pandemia da Covid-19 tenha registrado em seu pico apenas 2,78 casos de coronavírus por a cada 1 milhão, o que equivale a um total de 30 mil casos durante toda a pandemia. Nesse momento você deve estar se perguntando que país é esse, onde fica e qual foi a receita. Se eu te contar que esse país fica no continente africano, você acreditaria? Pois é, estamos falando da República Democrática do Congo. Esse e quase todos os outros países da África Subsaariana estão com baixos índices de casos do novo coronavírus.


Se fizermos a comparação em milhões de habitantes com outros países, por exemplo o Reino Unido, um dos que possuem a vacinação mais avançada do planeta, é perceptível um fracasso total. O país registrou em seu pico 881,31 casos por milhão de habitantes, um número 317 vezes maior que o país africano.


Todavia, a República Democrática do Congo não é o único país que apresenta dados de ótimo controle da pandemia. Etiópia, Angola, Eritréia e Camarões também possuem pouquíssimos casos. O que nos leva a questionar o porquê a região mais pobre do mundo apresenta tamanha discrepância em relação a outros continentes, mais ricos e avançados em pesquisa. Segundo dados do Banco Mundial para Produto Interno Bruto (PIB) de 2019, na África somente Nigéria (0,51%), África do Sul (0,4%) e Egito (0,35%) contribuem expressivamente para o PIB mundial.


O correspondente internacional na África do Sul para a Globo News e outros meios brasileiros, Vinicius Lima, diz que é difícil precisar com exatidão as motivações para esses baixos índices de casos e mortes registrados. “Por aqui há duas possíveis justificativas: governantes africanos agiram rápido, tomaram as medidas certas na hora certa. Pouco depois do primeiro caso no continente, em fevereiro do ano passado, países começaram a fechar fronteiras, suspender voos internacionais e proibir aglomerações - em alguns casos antes mesmo de ter um caso sequer no país-. Mas há também quem diga que os números são baixos porque não há muitos testes disponíveis”, relata.


A Revista Science publicou um estudo no início de 2020 que teve como objetivo entender os baixos registros na África. A maioria das pesquisas realizadas indicaram que muitos africanos desenvolveram anticorpos contra a Covid-19, indicativo de infecção anterior. 1 a cada 20 quenianos entre 15 e 64 anos produziram anticorpos contra a doença, um número expressivo. Porém, o país registrou oficialmente apenas 100 vítimas até meados de maio do ano anterior e poucos casos com sintomas suspeitos.


Outra pesquisa analisou 500 profissionais da saúde em Blantyre, Malawi. 12,3% foram expostos ao vírus, mas estavam assintomáticos. Cientistas avaliaram ainda 10.000 pessoas nas cidades de Nampula e Pemba, norte de Moçambique. 3 a 10% tinham anticorpos à SARS-COV-2, dado surpreendente uma vez que apenas 100 mortes foram confirmadas no país durante o período.


A pesquisa aponta duas hipóteses aos resultados ambíguos. A primeira é a baixa testagem. O Quênia, por exemplo, testa 1 a cada 10.000 habitantes diariamente com manifestação de sintomas. A Nigéria, nação mais populosa da África, testa 1 a cada 50.000. Os números mostram a defasagem no sistema de testagem e monitoramento de casos na África. Alerta para mobilizações mais efetivas da Organização Mundial da Saúde. A segunda hipótese é de que os africanos, por razões de sequenciamento genético ainda inexplicáveis, tenham resistência ao vírus. Apesar da baixa testagem, os hospitais registram poucos casos com sintomas acentuados e óbitos. A maior parte dos infectados evoluem bem. Especialistas estudam a possibilidade de que estejam desenvolvendo uma imunidade de rebanho, sem vacinação.


Uma matéria publicada pela Agência Brasil demonstra que há outras possíveis explicações para os baixos níveis de infecção no território africano. De acordo com o pesquisador do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cris-Fiocruz), Augusto Paulo Silva, um dos fatores é a capacidade de resposta a epidemias. A África há tempos vem enfrentando surtos de doenças, como a cólera e principalmente o ebola, o que foi necessário para a criação de planos emergenciais em alguns países. Assim, a África estaria mais bem preparada para atender outra quantidade de enfermos.


O mesmo pesquisador ainda ressalta que a população africana já contraiu tantas doenças, como também a malária, que o organismo dos africanos possa ter adquirido imunidade ou criado maior resistência a certos tipos de doenças. Além disso, a população africana é majoritariamente jovem se comparada à média mundial e na região central da África, onde há muita pobreza e baixo desenvolvimento, há menor contato com estrangeiros. São locais menos internacionalizados. A prova disso está nos países africanos com maiores índices de desenvolvimento, como África do Sul, Argélia e Egito, por exemplo. Com maior rotatividade estrangeira e turismo, o número de casos de Coronavírus são mais elevados do que o número de casos em países pobres.


O correspondente Vinicius Lima reitera que a pandemia não está controlada no continente africano, “pelo menos dez países têm registrado aumento na quantidade diária de casos, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Um desses países é a África do Sul, que registrou o maior número de casos no continente. Há o receio de que o país enfrente uma terceira onda de infecções.” Segundo ele, entretanto, a África do Sul adotou uma das medidas de restrição social obrigatória mais rígidas do mundo. “Além do fechamento de fronteiras, suspensão de voos e proibição de aglomerações, houve também a proibição da venda de cigarros e bebidas alcoólicas. O país investiu na criação de mais leitos de UTI, porém cerca de 95% dos infectados na África do Sul se recuperaram. E muitos não precisaram ser hospitalizados. Alguns hospitais ficaram sobrecarregados, mas de um modo geral o sistema nacional não.” Além disso, ele acrescenta que, graças ao investimento na pesquisa do sequenciamento genômico do Coronavírus realizado pelo país, foi possível chegar à nova variante. O que permitiu que o Reino Unido descobrisse outra variante.


Atualmente a vacinação representa uma nova esperança para frear o vírus no continente africano. Porém, de acordo com Lima, além de enfrentar o problema da lentidão, em várias partes do continente há muito receio por parte da população, que está recusando as vacinas. O que tem aumentado o risco de irem para o lixo porque podem vencer. O Malaui queimou quase 17 mil doses recentemente devido ao vencimento.


Além das falas do correspondente, os próprios dados evidenciam essa lentidão na vacinação. De acordo com a Our World in Data, a Guiné Equatorial lidera a porcentagem de vacinação com cerca de 9,31% da população vacinada. O país seguido é por Zimbabwe e Botswana que vacinaram, respectivamente, 4,26% e 3,04%. No geral, o continente vacinou apenas 1,58% da população.


 
 
 

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